Pó de estrela

Em absoluto, se cerro meus olhos a única certeza que consigo por milésimos abstrair é de que permaneço. Diante de fagulhas de um nunca mais a que o tempo me sentencia, todo e qualquer segundo meu passa como brisa que não é mais e que -igual pra todo mundo- foi soprado daqui. Memória não conta se o pó, por mais mágico e delicado, se a pluma por levíssima e em cócegas esvai. Por ousadia ou desespero em sussurros dedilho minhas escolhas e, antes que eu me arrependa, caio num buraco de efeitos que não consigo prever. Por mais doce a fragrância, ela vai embora e não fico senão com impressão. Vai passar, vai passar, vai passar a dor, o medo já foi embora, não há mais temor aqui, a angústia mudou de lugar e de nome. E ainda permaneço. Se abro os olhos, se me desfaço, se sou trêmula ou se sou triste. Não importa. Qualquer mínimo já desvia minha atenção ou desfoca meus sentimentos. Olha! Vê? Sou quase infinito e não sou nada. Sou pó de estrela de reluzir etéreo e sou areia fosca que vai do nada a lugar nenhum. Sou espuma?  Sou areia? Sou estrela? Sou sonho? Permaneço.

2 pensamentos sobre “Pó de estrela

  1. Absolutamente tudo, por maior ou mais insignificante que seja, tem o seu início, o seu meio e o seu fim.
    Esta é a regra.
    Portanto, aqui vão suas exceções: Deus, pois que não tem início ou fim e o Espírito Imortal, pois que não tem fim.
    Permaneces, espírito imortal, em planeta e existência finita, amealhando dores, alegrias, tristezas, sorrisos, decepções, satisfações, angústias, anseios, conquistas, e amor, patrimônio imorredouro que permaneces aonde você for.
    Desculpe-me por intrometer na sua conversa.

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    • Não , absolutamente, é sempre bem vindo! A ideia de permanecer ligo-a à personalidade, centelha divina, espírito que por maiores as transformações tem uma fagulha que fica, que não apaga. Sou instantes dentro do que vivo pois não sou mais o que era ao minuto anterior. Nem corpo igual, nem pensamento fixo. Sou espuma no sentido de que minha presença está em passar, mas algo de mim fica, sempre que vou. Ainda que seja a brisa que meu movimento provocou. E ela também esvai.
      Deus, O Incriado, O Infinito, O Belo, O Bom. É minha causa, meu motivo. Se ele é, sou, como filha dele, personalidade única que mesmo na mudança do sentir e pensar, sempre permanece única. Fico, fico com o que sou, espírito imortal, a pesar das mudanças das quais sou parte inevitável.

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